Atelier d'écriture
Le premier exercice consistait à poursuivre des phrases de Miguel Torga en utilisant deux mots choisis par les intervenants. Les phrases élaborés ont servi à constituer un texte par collage, à la manière surréaliste.
Pour le second exercice, nous avons demandé aux participants de rédiger un texte de plusieurs lignes en s'inspirant d'un extrait de Diario de Miguel Torga.
Collage :
Nessa cama de sombra é que me deito e acordo a tactear desde que vim… para estas águas-furtadas porque mes deixastes a mim ! O amor tinha-lhe finalmente preenchido a alma. Quando o desespero se apoderou de mim, olhei para o chão e vi aquela pedra. Pensei então : eram horas de a iniciar no abc da ferocidade. Tenho tantos regressos e saudade por dentro do meu peito, que queima a minha tranquilidade. Chega-se a qualquer terra do país, procura-se poesia, inventa-se simplicidade, descasca-se uma aparência humana, às vezes até próspera e suficiente, e é fatal : mais um falhado a jantar ao grande rol da nação. Aqui, a liberdade tem os seus limites do nosso corpo e as ideias penduradas ao nosso tecto não fogem fora do nosso telhado. A Guerra é mais simples do que a negociação; o desparo é mais simples do que o diálogo; a violência é mais simples do que a conversa ; a ditadura será mais simples do que a democracia ? Não encontro aliviamento às penas que me torcem a alma. É triste mas não há voltas a dar-lhe. As portas do Aljube estão fechadas e não há buraco no telhado. De maneira que era praticamente impossível que a árvore desse outros frutos. O campo estava varrido por torgas abafadas pelos pedregulhos do reino maravilhoso de Trás-os-Montes. Começava a criação do mundo. Cada povo tem os Tutankhamões e a pirâmide que pode. São proporcionais à sua soberba.
Texte réalisé par l'ensemble du groupe de l'atelier d'écriture
Productions personnelles :
Lonje, Inverno de 2007
Triste da minha sina, onde está tudo combinado, alguns me cá trouxeram e outros não me querem de volta. Quando o compromisso torna-se sacrifício e que a prenda transforma-se em egoísmo… que remédio encontrar para acalmar tal impaciência que mata cada momento. Sou vagabunda doida esquecida à procura desses telhados, dessas colinas, dessas águas, dessa graça… desse fado mas que só acha paixões, proveito, medo, ilusão e saudade. Cada dia que passa o meu pensamento é sacrifício, como se aquilo tudo fosse meu e me estivessem a roubá-lo.
Inês da Silva, étudiante à l’ESCE – La Défense
E a paisagem tranquila, serena e eterna das planicies da minha infância invade-me subitamente. Relembro-me dos pastos pardos e das larangeiras em flor. O em vão. Estes
Um fino manto de neblina cobre os campos, as lareiras fazem esquecer o frio e aconchegam as crianças às mães. As mulheres, eternamente de preto, parecem esperar uma morte que teima em não chegar e eu, aqui, a olhar e a pensar. Penso que foi tudo disperdiçado e que o tempo nunca mais poderá voltar atrás.
Isabelle Simões Marques, étudiante en doctorat de portugais, Paris 8
A miséria do mundo não é só em relação com a saúde ou a falta de dinheiro. A mais grande miséria é o fechamento de uma alma perdida no mundo, assombrada pelos retratos negros do passado, a impossibilidade de se abrir ao mundo, igual a um castelo que tem as chaves das portas desaparecidas no imenso mar. Essa alma será sempre a procura do seu paraíso ? Ou talvez ficará meia-morte de ter perdido a luz que lhe deu vida.
Emmanuelle dos Santos, étudiante en Licence 1 de LLCE Portugais, Paris 10
A linguagem e a imaginação
A magia da linguagem, em uníssono com a imaginação, situa-se neste preciso ponto : (re)criação de algo que não existe. É através desta magia que Miguel Torga alcança a felicidade : “e consigo, assim, brincar e ser feliz nos lugares onde nunca o fui realmente, e por onde passo de vez em quando numa espécie de respigo da vida.
Linguagem e imaginação permitem « inverter praticamente o tempo”, presenciam o que está ausente, criam o que não existiu ou existe.
O homem torna-se pessoa neste jogo de linguagem-imaginação, conhecendo-se cada vez mais a si próprio e ao mundo que o rodeia.
Matilde Gonçalves, étudiante en doctorat de portugais, Paris 8
Paris, 16 de outubro 2007
Mas as minhas raízes
Continuam na minha terra.
Saudades das serras,
Do pôr do sol, de roupa lavada
No rio e desse bairro
Aonde cada um vivia, convivial
Luiza Joana
Maria de Fátima Vilela, étudiante en portugais à Paris 4
Eis que surge na palavra
O mundo do acto de espremer
Sol que esmaga a triste serpente / sol esmagado que
Traz então dois teres , um que
E meu : no eu tenho medo
Outro serpenteado : têm-se medo
Dois sóis e o vento que sopra
Retirando poeira
Daniel Rodrigues, étudiant en master 2 de portugais à Paris 3
Agora, frente ao mundo que se enchia de sons, sentia a alma enlevar-se e mover-se ao ritmo dos ruídos da vida que chegavam da cidade. Terra longiqua onde havia de chegar, onde havia de cantar as rumbas das minhas alegrias e as elegias dos meus desesperos. O ar, repleto das vibrações dos homens a andarem, a trabalharem e a significarem, saciava-me a alma de sonhos acordados. A sinfonia da urbanidade chamava-me no seu leito e cativava-me com o seu tremendo esplendor. A natureza, agora muda, adormecera num silência aterrador, quase fatal, que presenciava o seu triste imobilismo. Nada mais que partir daqui, onde as almas só podiam esperar o sinistro enterro da sua juventude.
Sarah Carmo, étudiante en doctorat de portugais à Paris 3