Poema de Natal de Teresa Rita Lopes
Teresa Rita Lopes qui sera notre invité le 21 janvier, nous a honoré avec ce merveilleux poème de Noël.
POEMA DE NATAL
No Natal lembramo-nos das pessoas de quem regularmente
nos esquecemos durante todo o ano
e enviamos cartões
de Boas Festas
agora sob a forma de rápidos e-mail’s
(alguns até tocam música)
e de sucintos SMS
em abreviaturas.
O Pai Natal chega com bastante antecedência
para montar o negócio com tempo.
Espalhadas por todo o lado
ei-las as suas veneradas figurações como alpinista
a escalar
os prédios agarrado a uma corda.
Ou será como bombeiro?
Ou talvez como assaltante!
Estaria mais de acordo com a crise
e com a paisagem urbana.
Confesso a minha saloia saudade
dos presépios da infância em que recriava o mundo
apesar
dos gritantes anacronismos: até punha comboios e carrinhos
de brincar a correr para o Menino Jesus!
Mas que prazer
ot;>e que poder inventar montanhas com pedaços de cortiça
lagos com espelhos
e povoar esse pequeno mundo com casinhas
e moinhos e ovelhas e pastores e patos e até lavadeiras!
Se eu não tivesse armado e amado em menina os meus presépios
seria hoje outra pessoa
na minha relação com a casa e com o mundo.
Pena que já não seja o Menino Jesus a dar as prendas natalícias
por que já não espero!
Os meus sapatos cresceram demais
para os pôr na chaminé
que aliás já não tenho (um exaustor
metálico faz as vezes de).
Dantes aí púnhamos o sapatinho
na Noite de Natal com o coração a pular
mas tínhamos
que esperar pelos presentes a noite inteira porque só na manhã
seguinte os podíamos ir buscar.
Era sobretudo a espera que
os tornava preciosos.
Agora é tudo dito e feito
não há tempo
para esperar:
o Pai Natal avia toda a gente
pequenos e grandes
na Noite de Natal
(alguns desconfiam que as suas prendas vieram
do Chinês da esquina e arrependem-se das que deram).
Mas a verdade
verdadinha é que continuamos todos a gostar do Natal
talvez
porque no fundo do ser ainda esperamos por essa prenda que não
sabemos quem nos prometeu
e ainda nos não deu.